CPI do Tráfico Humano em Bragança

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura o tráfico humano no Pará começou ontem suas investigações por Bragança, numa incursão que se estende até hoje. Depois de Bragança, a CPI realiza sessões no Marajó, em Marabá e em algum município do oeste do Pará.
Apesar da indisposição dos depoentes em admitir acusações comprovadas contra eles, o vice-presidente da CPI, deputado Celso Sabino, avalia que foi possível desvendar muito além do inquérito policial. “Pegamos a ponta do novelo. Agora, além das vítimas e agenciadores, também serão cobrados os chamados ‘patrões’. Os empresários que pagavam essas meninas serão punidos”, adiantou o deputado.
Os seis depoentes de ontem negaram qualquer envolvimento com o agenciamento de prostituição de adolescentes. Eles foram convocados a prestar esclarecimento por estarem arrolados num inquérito policial, iniciado em 2006, que investiga uma rede de prostituição atuante em Bragança e que também promove o tráfico de mulheres para Macapá e para o exterior. Alguns deles foram presos por ocasião da instauração do inquérito.
O primeiro a prestar depoimento foi Robson Nonato Nunes, o ‘Pororoca’, presidiário condenado a 14 anos de detenção. Ele chegou algemado e escoltado por dois agentes prisionais e revelou que agenciava garotas principalmente em festas, onde elas encontravam com os clientes para fazer os programas. O agenciador também confessou que muitas das meninas que faziam parte de seu negócio eram prostituídas com o consentimento dos pais. “Elas ajudavam em casa com o dinheiro que ganhavam”, disse, mas declarou ter dor na consciência pelo que fazia. “Quando eu chegava em casa e via meu filho criança dormindo, sentia uma grande angústia”, completou. O agenciador contou ainda que a média do preço cobrado pelas garotas variava entre R$ 70 a R$ 100, dos quais elas repassavam para ele de R$ 20 a R$ 30 e encerrou seu depoimento afirmando que muita gente envolvida não foi chamada sequer para prestar algum depoimento.
Ainda pela manhã, mais dois envolvidos no inquérito policial foram ouvidos: Benedito Sérgio Alves do Espírito Santo, que é conhecido por Cochó, e Aldo Wellington da Silva Dias.
Cochó já esteve preso durante três meses e 10 dias, após ser acusado pelo pai de uma adolescente com quem mantinha contato frequente. Ele negou conhecer a menina. Visivelmente nervoso, ele negou envolvimento com a prostituição e atribuiu a presença constante de garotas em sua companhia ao fato de ser homossexual. “Sou gay, o que me leva a ter mais amizades com meninas”, disse.
Depoimentos cheios de evasivas
Mesmo depois de ser alertado por um advogado sobre as implicações do crime de falso testemunho, Cochó não admitiu as acusações direcionadas a ele, chegando a não reconhecer em fotografias pessoas apontadas no inquérito como suas comparsas nas noites de Bragança. O máximo que chegou a admitir é que quando estava com uma amiga que acabava arrumando um programa, pedia ao cliente dela que lhe deixasse pago um balde de cerveja.
O depoimento de Aldo Wellington encerrou o expediente matinal da sessão. Preso em 2005 e em 2010, ambas as vezes por agenciar garotas de programa menores de idade, Wellington admitiu o crime pelo qual já pagou no centro de recuperação e agora está em liberdade condicional, mas não acrescentou nada que esclarecesse acerca do tráfico de mulheres para Macapá, Guiana e Europa, que é um dos principais objetivos da CPI. Ele negou ter conhecimento sobre pessoas envolvidas nesse aspecto da prostituição.
A parte da tarde foi menos proveitosa quanto às revelações. A primeira a ser ouvida na segunda parte da sessão foi Domingas Moraes de Lima, a Preta, que foi chamada a depor novamente hoje. Em 2006, ela era proprietária do Bar da Preta, local indicado como ponto de encontro de garotas de programa, no bairro do Taíra.
Dona do bar Cabral, também apontado como ponto de prostituição de adolescentes, Lozanira Nascimento Torres, também deve prestar esclarecimentos à CPI do Tráfico nesta sexta-feira.
A última depoente da sessão foi a autônoma Marly Farias de Brito, acusada de ter promovido o tráfico de duas adolescentes de Bragança para Macapá. Marly não revelou nada de interessante, mas comprometeu Pororoca ao afirmar que só conhecia uma boate de prostituição de nome Casa de Chá, em Macapá, através do agenciador que está detido. Porém, Pororoca havia deposto que não tinha o menor conhecimento sobre o referido prostíbulo.
Hoje pela manhã foram ouvidos ainda outros envolvidos no inquérito policial e também será exibido o filme “Europa, o conto que não se conta”, produção da Mandil Audiovisuale, para que em seguida seja feita uma mesa redonda sobre o assunto. (Diário do Pará, de Bragança)


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